Além da ideia: semifinalistas do Desafio InoveMob recebem capacitações
À mobilidade, não cabe uma solução, mas soluções. Quando falamos de mobilidade, falamos de trânsito, carros, transporte coletivo, bicicletas, ciclovias e calçadas. Também falamos de congestionamentos, transporte sob demanda, deslocamentos cotidianos, pedestres. Em suma, falamos de pessoas que desejam ir de um lugar a outro com conforto, segurança e eficiência. Necessidades que esbarram em obstáculos também diários.
Nas cidades brasileiras, grande parte dos deslocamentos feitos todos os dias converge para os chamados “centros de atividades”: áreas que concentram uma intensa movimentação de pessoas, como centros empresariais, universidades, terminais de transporte, complexos hospitalares, entre outros. Foi com o objetivo de encontrar novas soluções de mobilidade para o entorno desses locais que o Desafio InoveMob recebeu e selecionou projetos de diversas regiões do país.
Em resumo:
“Só é possível entregar uma solução se alguém tem uma necessidade”.
A frase de Tatiana Coelho, da Improve Assessoria, foi uma das lições a que os 12 semifinalistas do Desafio InoveMob tiveram acesso nos dois dias de capacitação que receberam esta semana. As equipes acompanharam uma série de oficinas para refinar e lapidar o pitch que farão aos prefeitos e prefeitas durante a 73ª Reunião Geral da Frente Nacional de Prefeitos (FNP), entre os dias 7 e 9 de maio em Niterói.
Pitch é a palavra que, entre outras definições, refere-se ao processo de “vender” uma ideia ou um projeto para determinado grupo focal, geralmente investidores. Trata-se de uma fala breve, de poucos minutos, em que o idealizador ou idealizadora apresenta sua ideia, apontando diferencial, modelo de negócio e impacto.
Laura Gurgel e Sami Reininger, do Clube de Negócios, elencaram os elementos-chave para construir um bom pitch: gerar empatia no ouvinte, destacar o diferencial, apresentar o modelo de negócio e deixar um “gosto de quero mais”, tudo isso em uma linguagem direta, com frases curtas e palavras simples. “O objetivo do pitch precisa ser muito claro. [Deve considerar] com quem estamos falando, com que finalidade e para onde queremos conduzir esse ouvinte. Cada tipo de público, portanto, ouvirá um pitch diferente”, ressaltou Laura.
Especialista em gestão e design de serviços, Tatiana ajudou os participantes a elaborarem um quadro de modelo de negócio, mais conhecido pelo nome em inglês business model canvas. O quadro é dividido em blocos que reúnem os fatores-chave para o desenvolvimento de um projeto: proposta de valor, relação com clientes, canais, segmentos de mercado, atividades, recursos, parcerias, estrutura de custos e fontes de receita. Em paralelo a esses fatores, o sucesso de uma ideia, a especialista reforçou, também depende de entender as pessoas e suas necessidades: “Vocês precisam conhecer o usuário do serviço de vocês e saber por que essas pessoas o utilizam, mas também é fundamental conhecer o outro lado: quem são as pessoas que não utilizam esse serviço e por que não estão utilizando”, resumiu a especialista.
Equipes constroem o business model canvas de seus projetos (Foto: Priscila Pacheco/WRI Brasil)
Os semifinalistas também aprenderam algumas noções de gestão de projetos e questões jurídicas relacionadas à criação e operação de uma startup. Ao final da bateria de oficinas, os participantes reformularam o pitch, incorporando os aprendizados acumulados. "Estava muito focado em apresentar o meu projeto para investidores", comentou Rafael Crespo, da Vanmos. "Com as oficinas, entendemos que a gestão pública tem uma ótica diferente e outras perspectivas. Isso me ajudou a perceber que preciso mudar algumas estratégias para atrair esse público. Na minha percepção, o que os prefeitos esperam são soluções que gerem impacto, não onerem os cofres públicos e melhorem a qualidade de vida da população".
A conquista de um prefeito ou prefeita disposto a receber a solução será determinante para avançar no Desafio InoveMob. Uma nova comissão julgadora avaliará as propostas, que serão refinadas, e cinco finalistas serão selecionados para a próxima etapa. Cada um receberá US$ 20 mil para implementar um projeto piloto. A seguir, confira a visão dos concorrentes sobre o diferencial de suas propostas e o que esperam de uma gestão municipal inovadora. O Desafio InoveMob é realizado pela Toyota Mobility Foundation e pelo WRI Brasil com apoio da Frente Nacional de Prefeitos.
Como meu projeto vai melhorar a vida das pessoas
Lucas Elias, fundador e CEO da Bikxi
A Bikxi é um sistema de carona compartilhada que utiliza bicicletas elétricas. É uma solução limpa, confortável e que liberta as pessoas do trânsito.
Danilo Tamelani, CEO das BusUp Brasil
O diferencial da BusUp é que nós oferecemos transporte para pessoas que não têm oportunidade de ter esse transporte. Nós atendemos sob demanda e criamos rotas customizadas às necessidades das pessoas.
Gustavo Gracitelli, sócio e CEO da Bynd
O primeiro diferencial é a tecnologia. Nós desenvolvemos um algoritmo específico de “match” de caronas diferente de todos os existentes, considerando proximidade, rotas, componentes sociais, interesses, comportamento. Com isso, o sistema aprende as preferências dos usuários e realiza os matchs de forma que sejam os melhores possíveis para os clientes.
Carolina Padilha, sócia fundadora da Carona a Pé
O Carona a Pé é único projeto que trabalha com as crianças e com foco na mobilidade a pé. Pensamos na formação das crianças como pedestres e na prevenção de acidentes.
Roberto Speicys, da Scipopulis – Chica Bicicleta Inteligente
A Chica é uma solução de compartilhamento de bicicleta sem estação. Acreditamos que esse tipo de sistema é uma solução definitiva para os deslocamentos de última milha. O transporte coletivo não chega a todos os lugares, sempre há um trecho que precisa ser percorrido a pé – é onde a Chica entra. Você pode pegar uma bicicleta do lado da sua casa, ir até o ponto onde pegara o transporte coletivo e chegar ao seu destino.
Luiz Renato Muno de Mattos, cofundandor e CEO da Onboard Mobility
O diferencial do projeto está no desenvolvimento centrado no usuário. Queremos impactar a vida dos usuários eliminando filas, simplificando cadastros e acessos a serviços e integrando a mobilidade urbana como um todo.
Priscila Coutinho, da RidePoli
A RidePoli é única em realizar esse tipo de estudo, que analisa a viabilidade de implementação de um transporte compartilhado, em tempo real e sob demanda para a primeira e a última milha. Não existem empresas no Brasil que façam isso, por isso esse é o nosso diferencial.
Rafael Guimarães Crespo, cofundador e CEO da Vanmos
A diferença da Vanmos em relação às outras iniciativas é a recorrência: nós cobramos uma assinatura, enquanto outras opções sob demanda. Então acreditamos que oferecemos um serviço mais confiável – você pede uma vez e o motorista estará na sua porta todos os dias para te levar ao trabalho. Como um transporte escolar para adultos.
Marcio Nigro, sócio e CEO da WiiMove
Temos a oferta e a demanda na mesma plataforma, com um potencial muito maior de “combinar” cada usuário com o meio de transporte desejado, o que beneficia a empresa e os colaboradores. Isso otimiza e melhora a qualidade dos deslocamentos para as pessoas.
Semifinalistas debatem seus projetos (Foto: Priscila Pacheco/WRI Brasil)
O que espero de uma prefeitura inovadora
Danilo Tamelani, CEO da BusUp Brasil
Os governos municipais precisam começar a enxergar as novas soluções de mobilidade que têm surgido como complementares e não como concorrentes. Na minha visão, as gestões precisam começar a abrir um pouco mais o mercado de transportes, oferecer mais oportunidades para a inovação.
Gustavo Gracitelli, sócio e CEO da Bynd
Entendo que no setor público há dificuldades para inovar, porque tudo é parametrizado – por motivos válidos, porque precisamos garantir um bom uso dos recursos públicos. As prefeituras mais abertas à inovação, que estão dialogando e abrindo espaço para as soluções inovadoras, estão dando um passo à frente.
Carolina Padilha, sócia fundadora da Carona a Pé
Uma gestão municipal inovadora é uma gestão que acredita em soluções e não coloque a questão da segurança como um empecilho. Uma prefeitura ousada no sentido de enxergar que pessoas juntas ampliam a segurança – não o isolamento, mas comunidades. Uma gestão inovadora entende que uma sociedade empoderada pode gerar mudanças positivas.
Roberto Speicys, da Scipopulis – Chica Bicicleta Inteligente
A inovação é um desafio para as gestões municipais hoje. Como as cidades podem atrair, estimular e contratar a inovação? As prefeituras precisam se abrir para a inovação – para atrair novas soluções, para se modernizar e para que a gestão seja mais eficiente.
Paulo Roberto de Carvalho, estacionamentos
É estar aberto a alternativas. Não se contentar só com o padrão e buscar novas soluções a partir da tecnologia.
Renato Rodrigues, da Milênio Bus
Na minha percepção o que torna uma gestão municipal inovadora é a transparência. A gestão precisa mostrar que está buscando novas oportunidades e que isso tende a gerar um impacto positivo na vida das pessoas. Porque o que se quer é isso: que as pessoas sejam felizes em suas cidades.
Luiz Renato Muno de Mattos, cofundandor e CEO da Onboard Mobility
Na minha visão, inovações só acontecerão de fato se todos os agentes do ecossistema estiverem próximos e trabalhando para gerar resultados. O gestor municipal tem um papel fundamental nessa cadeia que é o de regular. Para regular ele precisa entender, para entender ele precisa estar próximo e para estar próximo ele precisa fomentar criando um ambiente favorável para prototipagem e execução de pilotos.
Priscila Coutinho, da RidePoli
Se a gestão municipal não tiver a iniciativa de receber essas soluções, acompanhar as tecnologias, vai ficar para trás. Para melhorar a mobilidade urbana, os governos municipais precisam estar abertos à mudança e tentar acomodá-la da melhor forma. Com regulamentação adequada.
Rafael Guimarães Crespo, cofundador e CEO da Vanmos
Uma gestão inovadora é uma gestão aberta a novas ideias e disposta a implementá-las. Porque as novas ideias não necessariamente precisam nascer na prefeitura, mas a prefeitura precisa ouvir as ideias que vêm da sociedade.
Para saber mais sobre os projetos, acesse: wribrasil.org.br/inovemob-semifinalistas
Semifinalistas e mentores ao final de dois dias de capacitações (Foto: Diogo Lemos/WRI Brasil)
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