5 técnicas para a agricultura brasileira crescer de forma sustentável e sem destruir a floresta
O Brasil é um dos países com a maior produção agropecuária do mundo. O setor agropecuário é extremamente importante para a economia brasileira, atualmente representando mais de 20% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, e precisará continuar crescendo para atender a demanda de alimentos no futuro.
O Brasil também é o país com a maior área de florestas tropicais do planeta, e essas florestas também são extremamente importantes. Elas controlam o clima, absorvendo gases de efeito estufa para evitar o aquecimento global, além de regular o regime de chuvas, proteger nascentes e abrigar a biodiversidade.
Esses dois pontos fortes do Brasil podem caminhar juntos por uma agricultura sustentável. Seguindo tendências tecnológicas de outros países para ampliar a produtividade e investindo em novas técnicas de produção de baixo carbono, a agropecuária brasileira pode produzir mais, melhor e sem a necessidade de avançar em áreas de floresta nativa.
Mas como fazer isso? Já há no Brasil técnicas para melhorar a produção sem avançar na floresta. Confira 5 meios de tornar a nossa agricultura sustentável e produtiva.
1. Recuperação das pastagens degradadas
Uma agropecuária sustentável não é compatível com a grande quantidade de áreas degradadas que existem no Brasil. Os números variam dependendo da metodologia, mas estima-se que o país tenha entre 30 milhões e 100 milhões de hectares de pastagens degradadas, além de outros 24 milhões de hectares de áreas improdutivas.
Esse grande número de pastagens degradadas mostra que a pecuária não precisa avançar em florestas para expandir sua produção. O Brasil pode investir na recuperação dessas áreas, tornando-as produtivas novamente. Essa é inclusive uma das metas do país no Acordo de Paris, quando o Brasil se comprometeu, entre outras coisas, a recuperar 15 milhões de hectares de pastagens degradadas até 2030.
2. Intensificação da pecuária
Além de se expandir em áreas degradadas ou abandonadas, a agropecuária brasileira tem ainda um grande potencial de melhorar sua eficiência produzindo mais em menos espaço. Segundo o pesquisador da Embrapa Eduardo Assad, a pecuária brasileira tem hoje uma média de 1 animal por hectare. Com as novas tecnologias de manejo de pastagem e de manejo de animais, é possível criar 1,5 animal por hectare. Essa intensificação viabiliza o aumento da produção da pecuária e a produtividade do setor sem demandar a abertura de novas áreas de florestas. Para se ter uma ideia, um estudo feito por pesquisadores da Unesp e da Embrapa identificou que a produtividade da carne, que em 2015 era de 45 quilos de carne por hectare, pode passar a ser de 200 quilos por hectare, produzindo muito mais no mesmo espaço, para isso bastando um manejo mais adequado das pastagens.
3. Integração Lavoura-pecuária-floresta
Outra boa prática de agricultura é a chamada integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLFP). A iLFP é uma técnica que permite integrar, num mesmo espaço, produção agrícola, criação de gado e silvicultura. Essa integração pode acontecer ao mesmo tempo – por exemplo, um sistema silvopastoril tem pasto para gado e árvores convivendo no mesmo espaço – ou em sucessão, quando primeiro planta-se uma cultura, que é substituída por criação de gado ou floresta.
Diferentes modelos de iLPF podem ser aplicados em diferentes regiões. Uma reportagem da revista Globo Rural mostrou vários casos bem-sucedidos, como de produtores que utilizam um sistema com rotação de arroz irrigado e pasto ou técnicas de uso de árvores nativas e pasto.
Os benefícios da integração: melhora dos nutrientes no solo e do bem-estar animal; aumento da produção de grãos, fibras, carne, leite e produtos madeireiros e não madeireiros; geração de empregos diretos e indiretos; entre outros. E tudo isso sem precisar avançar em florestas, protegendo nossos recursos naturais. Por conta desses benefícios, o Brasil se comprometeu, no Acordo de Paris, com o aumento de 5 milhões de hectares de sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta até 2030.
4. Sistemas Agroflorestais
Outra forma eficiente de agricultura sustentável e de restauração de florestas é a criação de um Sistema Agroflorestal (SAF) na propriedade. O SAF combina espécies florestais, como árvores frutíferas ou para madeira, com as lavouras tradicionais. As árvores geram importantes benefícios ecológicos, como a melhora da qualidade do solo, redução de erosão, proteção de corpos d’água e estabilização do microclima, além de poderem ser usadas comercialmente – na coleta e venda de frutas ou no uso de produtos madeireiros ou não-madeireiros. Enquanto as árvores não crescem e dão frutos, o sustento da propriedade vem da agricultura, que é produzida em consórcio com as árvores.
Um exemplo desse sistema foi implantado por produtores de Juruti, no Pará, com apoio do WRI Brasil. As famílias que antes só produziam mandioca passaram a plantar, junto com a mandioca, árvores nativas como cupuaçu, açaí, além de espécies frutíferas adaptadas. Com essa mudança, a comunidade em Juruti passou a integrar floresta com agricultura, abandonando práticas ultrapassadas como o uso do fogo na lavoura. O resultado é geração de renda e proteção da floresta ao mesmo tempo.
Produtores preparam plantio de Sistema Agroflorestal em Juruti (Foto: Joana Oliveira/WRI Brasil)
5. Reporte de emissões no setor agrícola
As técnicas acima, além de melhorarem a produtividade e eficiência, promovem um uso mais sustentável da terra, reduzindo o impacto que a agropecuária provoca nas emissões de gases de efeito estufa, responsáveis pelas mudanças climáticas. Uma forma do setor mostrar para sociedade que é realmente sustentável e eficiente é reportando suas emissões. Há várias ferramentas para isso. Uma delas é o GHG Protocolo Agropecuário, criado pelo WRI Brasil em parceria com a Embrapa e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Com o GHG Protocolo, os produtores podem colocar seus números de rebanho, produção e área de lavoura, e a ferramenta calcula a geração de gases de efeito estufa decorrente de sua produção. Essa informação pode ser usada para que agricultores e pecuaristas entendam onde podem melhorar a eficiência de suas atividades e, assim, implementar a gestão das emissões. Um primeiro passo para entender a propriedade e facilitar o planejamento para que o produtor possa de fato investir em agricultura sustentável.