Este post foi escrito por Emily Cassidy e publicado originalmente no blog do Resource Watch.


As mudanças climáticas têm sido notícia com frequência ultimamente, em especial depois de uma temporada de furacões que afetou os Estados Unidos. O assunto foi tema de entrevistas com Trump, e muito da atenção veio com o relatório lançado pelo IPCC sobre o que esperar com o aumento da temperatura média do planeta em 1,5°C ou 2°C.

O relatório mostra que, para limitar o aquecimento global a 1,5°C, são necessárias mudanças muito mais profundas na maneira como consumimos energia, cultivamos alimentos e planejamos nossas cidades. Ainda assim, atingir essa meta é fundamental se quisermos prevenir os impactos mais desastrosos que as mudanças no clima podem causar.

Pode parecer assustador, mas nós já temos as ferramentas necessárias para superar esse desafio – só precisamos garantir que sejam usadas e acelerar esse processo. “Manter o aquecimento global abaixo de 1,5°C é tecnicamente possível considerando as leis da física e da química, mas para fazer isso precisamos de mudanças sem precedentes”, afirmou Jim Skea, copresidente do Grupo de Trabalho III do IPCC.

Existem pelo menos 100 soluções para as mudanças climáticas; três estão em destaque nos mapas abaixo.

Substituir usinas de carvão por energia renovável

O IPCC prevê que as emissões de dióxido de carbono causadas pela atividade humana precisam diminuir pelo menos 45% em todo o mundo até 2030 e chegar a zero até 2050 para mantermos o aquecimento global abaixo de 1,5°C.

Reduzir as emissões exigirá uma substancial descarbonização do setor de energia. As energias renováveis precisarão suprir de 70% a 85% da eletricidade em 2050, a fim de evitar que o aquecimento global ultrapasse o 1,5°C. As usinas de carvão ainda forneceram 28% da energia usada no mundo em 2015, mas o uso de fontes renováveis está em alta.

Em 2016, a energia solar foi a que mais cresceu. Mais de 70 gigawatts foram instalados em todo o mundo, o suficiente para abastecer 50 milhões de casas nos Estados Unidos. Essa tendência, no entanto, precisa aumentar exponencialmente para que as emissões de carbono caiam pela metade nos próximos 12 anos.

O Resource Watch disponibiliza dados sobre o potencial de energia solar, que é estimado calculando a radiação solar média que atinge a Terra durante um ano. A utilização desses dados junto à Base de Dados Global de Usinas Elétricas (Global Power Plant Database) mostra locais onde o potencial da energia solar se aproxima do das usinas de carvão existentes.

Nos Estados Unidos, muitas usinas de carvão estão sendo desativadas na medida em que envelhecem. No estado de Washington, uma usina de carvão responsável por 10% das emissões do estado será desativada até 2025, e a usina e as minas próximas serão substituídas por painéis solares.

À medida que os custos da energia solar continuarem a diminuir, desativar usinas de carvão e substituí-las por renováveis começará a parecer uma alternativa cada vez mais atrativa.

Também Podemos fazer o mesmo em relação ao potencial da energia eólica, e sobrepor o mapa com as usinas eólicas existentes, para ver áreas de potencial a ser explorado. O WRI atualiza o banco de dados a cada seis meses.

Plantar árvores e restaurar pradarias e solos degradados

O velho ditado diz que “dinheiro não dá em árvore”, mas a verdade é que, quanto mais pensamos nos benefícios das árvores, menos esse ditado se sustenta.

Plantar árvores e restaurar solos pode melhorar a qualidade da água, retirar carbono da atmosfera e criar uma fonte de renda para as pessoas que vivem nas áreas rurais. Uma pesquisa feita dentro do projeto de “Nova Economia da Restauração”, do WRI, estimou os benefícios econômicos anuais de restaurar áreas degradadas e desmatadas em US$ 84 bilhões.

Embora precisemos descarbonizar rapidamente a economia, só isso não será mais suficiente para limitar o aquecimento a 1,5°C. Em outras palavras, o mundo precisa não apenas reduzir emissões, mas tirar o carbono do ar. Quase todos os modelos utilizados no relatório do IPCC baseiam-se na remoção de carbono. Restaurar paisagens e florestas é uma das opções mais econômicas e eficientes de fazer isso.

Pesquisas mostram que soluções naturais como essa podem proporcionar mais de 30% da redução de carbono necessária até 2030 para limitar o aquecimento global. Ao restaurar áreas degradadas, podemos capturar uma quantidade significativa de carbono ao mesmo tempo em que proporcionamos bilhões em benefícios econômicos.

O mapa acima, de oportunidades para a restauração, mostra regiões onde diferentes tipos de restauração de paisagens são possíveis. Em áreas menos povoadas, a restauração em larga escala é viável onde há pouca disputa pela terra. A agricultura e a habitação rural podem estar presentes em áreas mais povoadas, onde a restauração em mosaico proporciona a oportunidade de agrossilvicultura e a incorporação de árvores em outros usos da terra. A restauração remota é possível em locais distantes da presença humana, mas acaba menos viável devido à dificuldade de acesso a esses locais. Mais de dois bilhões de hectares em todo o mundo oferecem oportunidades para a restauração em grande escala ou em mosaico, uma área maior que a América do Sul.

Em escala continental, a África tem a maior área de oportunidade tanto para a restauração em larga escala quanto em mosaico. Vinte e sete países no continente se comprometeram a restaurar 111 milhões de hectares de terras degradadas na Iniciativa Africana de Restauração da Paisagem Florestal (AFR100). Ao cumprir esse objetivo, os países estimularão a resiliência climática e o crescimento econômico.

Mudar a dieta

A classe média cresce rapidamente em todo o mundo. A cada segundo, cinco pessoas entram nesse grupo, caracterizado por ter uma renda flexível para atividades de lazer e gastronômicas. À medida que as populações se tornam mais ricas, aumenta a demanda por carne e laticínios – alimentos com um alto impacto climático.

Com as projeções de aumento da população e um consumo crescente de carne, a agricultura sozinha seria responsável por quase todas as emissões “possíveis” para manter o aumento da temperatura abaixo de 2°C e tornando a meta do 1,5°C impossível. Mudar a dieta, então, é fundamental para atingir as metas climáticas.

O mapa abaixo mostra novos dados do Resource Watch referentes à parcela das calorias cultivadas que de fato chegam aos nossos pratos. Nos Estados Unidos, cerca de dois terços das culturas são alimento para o gado, e a conversão do milho em produto animal é um processo bastante ineficiente. Apenas 12% das calorias ingeridas pelo gado tornam-se carne, ovos e laticínios.

Estimular uma mudança nos consumidores de renda mais alta, para que passem a ter uma dieta rica em vegetais, pode amenizar a demanda por terras para cultivar milho, soja e outras culturas de ração animal – e reduzir a demanda por pastagens. Mudar de carne para frango ou porco já traz um grande benefício. Uma vez que o gado converte as calorias em alimento de forma tão ineficiente, hipoteticamente essa mudança poderia liberar calorias suficientes para alimentar 357 milhões de pessoas.

Não existe uma solução mágica ou uma única esfera em que devemos agir para combater a crise no clima. Esse trabalho exigirá diversos atores, diferentes ações e vários caminhos na direção certa. O Resource Watch pode ajudar a explorar intervenções possíveis em escala global e a monitorar o pulso do desenvolvimento humano.