Diante dos efeitos cada vez mais intensos e frequentes das mudanças no clima, resiliência e adaptação tornam-se palavras de ordem para garantir o desenvolvimento sustentável nas cidades. Em novembro, em mais um passo para se tornar uma cidade mais resiliente, Florianópolis recebeu oficina sobre inventário de gases de efeito estufa e plano de ação climática. Organizado pela prefeitura em parceria com o WRI Brasil, o evento reuniu técnicos e gestores municipais e representantes de ONGs e do setor acadêmico para discutir o contexto atual da cidade quanto às mudanças climáticas e debater medidas de mitigação e adaptação.

O objetivo do encontro, que contou com apresentações de especialistas em clima, foi apresentar ferramentas de gerenciamento de riscos e dar início a um processo de capacitação dos técnicos da prefeitura, para que possam compreender e aplicar os novos conhecimentos na gestão da cidade. O primeiro dia do evento foi focado no nivelamento sobre mudanças climáticas e cidades, com a apresentação de conceitos relevantes ao tema e contextualização no cenário brasileiro. Laura Valente de Macedo, consultora do WRI Brasil, iniciou as discussões do dia com a palestra “O que são as mudanças climáticas globais?”. A especialista apresentou um panorama das mudanças climáticas no Brasil e destacou que as consequências das mudanças climáticas não afetam apenas os seres humanos, mas todas as espécies de vida: “As mudanças no clima alteram todo o ecossistema de que dependemos para sobreviver. O planeta possivelmente se recupere um dia, após um novo o ciclo de evolução, mas não podemos dizer mesmo de nós. Quanto mais tempo esperarmos para agir, pior será”.

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Cidades: o centro de ação no combate às mudanças no clima

Para aprofundar o assunto, o debate foi seguido pela mesa redonda “Ação Climática Local”. Com a moderação de Laura, participaram da conversa Roberto Strumpf, da Pangea Capital; Igor Albuquerque, do ICLEI; Luiz Roberto de Oliveira, da Prefeitura de Recife; e João Resch Leal, da Prefeitura de Salvador. Os processos de mitigação e adaptação no contexto urbano foram o tópico abordado por Roberto Strumpf, para quem, como parte do problema, as cidades precisam também ser parte da solução. O especialista apresentou os riscos e oportunidades que acompanham o trabalho no combate às mudanças no clima. Os primeiros incluem a danificação de estruturas por eventos extremos, o aumento dos preços das commodities e a falta de conhecimento das ferramentas de adaptação, entre outros; as oportunidades, por sua vez, envolvem são o menor impacto ambiental, eficiência energética, melhor gerenciamento dos riscos, reconhecimento pelas boas práticas e maior participação e influências nas discussões nacionais e globais sobre as mudanças no clima. “O poder local, apesar de ainda um tanto marginalizado, com participação bastante recente em discussões globais, tem o potencial de tomar a frente nas medidas de mitigação e de fato concretizá-las. Aos poucos as cidades começam a liderar a busca por soluções – hoje, somando todos os compromissos climáticos já assumidos por cidades, são mais de 8 mil ações implementadas”, enfatizou. Strumpf também trouxe aos participantes da oficina um panorama sobre a metodologia GPC, utilizada para delimitar, calcular e reportar emissões. O método, uma vez que pode ser usado de forma gratuita e aplicado em qualquer cidade, tem a intenção de uniformizar os inventários e medições. O especialista explicou o passo a passo a realização dos inventários, que envolve a delimitação do espaço geográfico, temporal e das fontes, a definição da abordagem de cálculo, a coleta de dados, a aplicação da ferramenta de cálculo e, por fim, o reporte dos resultados.

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Uma das frentes pelas quais as cidades podem se comprometer com metas efetivas de redução de emissões é o Compacto de Prefeitos. Lançado em 2014, durante a COP de Nova York, é a maior iniciativa entre redes globais de cidades em um esforço para consolidar os compromissos climáticos, conforme conta Igor Albuquerque. Conforme explicou o Gerente de Mudanças Climáticas do ICLEI, Igor Albuquerque, a assinatura no do Compacto implica uma série de compromissos para a cidade – avaliação de vulnerabilidade, construção do inventário, estabelecimento da meta de redução de emissões e, por fim, o desenvolvimento e implementação do plano de ação. “O objetivo do compacto é apoiar ações locais de mitigação e adaptação, alavancar essas ações e implementá-las nas cidades. São ações locais, mas que têm impacto global, como é a própria natureza das mudanças climáticas”, completou Igor.

Exemplos brasileiros

Apesar de ainda de percorrer o início de um caminho longo, o Brasil já tem alguns bons exemplos de cidades agindo para reduzir as emissões e combater as mudanças no clima – e Florianópolis pode ganhar bons aprendizados com eles. Entre as capitais, destacam-se as iniciativas realizadas em Recife e Salvador, duas cidades que nos últimos anos avançaram consideravelmente no trabalho com programas de adaptação e mitigação. Luiz Roberto de Oliveira, gestor de políticas de baixo carbono e clima da Prefeitura do Recife, e João Resch Leal, Diretor de Ecologia Urbana da Prefeitura de Salvador, apresentaram as diversas frentes de ação das duas cidades.

Entre outros projetos, a capital pernambucana criou fóruns municipais de discussão sobre o clima, para estimular a participação popular, instituiu a Política de Sustentabilidade e de Enfrentamento das Mudanças Climáticas do Recife e atualmente vive o processo desenvolvimento de seu Plano de Baixo Carbono. “Todas essas medidas estão interconectadas, uma depende das demais para que os impactos na cidade sejam positivos e os resultados, alcançados”, destacou Luiz Roberto. Já Salvador, por meio da Secretaria de Cidade Sustentável, vem implementando uma série de medidas em prol da sustentabilidade, como o IPTU verde, além de trabalhar em três planos – de Resiliência, Plano Municipal de Meio Ambiente e Plano Diretor de Arborização Urbana. Dinâmica: mapeando riscos e oportunidades

Florianópolis já realizou seu inventário de emissões. Agora, a capital catarinense tem pela frente o desafio de estabelecer como utilizar essas informações e construir uma estratégia climática abrangente para a cidade. A fim de aprofundar as discussões da manhã, durante a tarde os cerca de 30 participantes da oficina participaram de uma dinâmica de mapeamento de riscos e oportunidades.

Sob a coordenação Igor Albuquerque, Roberto Strumpf e Diogo Pires Ferreira, Coordenador de Projetos de Transporte do WRI Brasil Cidades Sustentáveis, a atividade traçou riscos e oportunidades dentro de quatro classificações: climáticos, financeiros, técnicos e políticos. Divididos em grupos, os participantes debateram os fatores alocados em cada um dos quatro eixos. O objetivo do exercício, segundo explicou Igor, é demonstrar que a elaboração de uma estratégia de mitigação e adaptação não se encaixa em apenas um setor; ao contrário, depende de uma série de ações integradas e supõe a articulação entre as diversas instâncias de governo. A dinâmica servirá de base para a continuidade das discussões no segundo dia de oficina, nesta terça-feira (24), e para o direcionamento de ações na cidade.

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