Na segunda Cúpula das Três Bacias, líderes, especialistas e cientistas dos países das bacias florestais da Amazônia, Congo e Sudeste Asiático destacaram a necessidade de cooperação e compartilhamento de conhecimento entre essas regiões para proteger as florestas tropicais.

A segunda Cúpula das Três Bacias ressuscita uma ambição que foi concebida na primeira Cúpula, em 2011, visando desenvolver um plano de colaboração entre os países da Amazônia, Congo e Sudeste Asiático. A Cúpula também apoiou os objetivos da Década das Nações Unidas para a Restauração dos Ecossistemas e reconheceu os recentes relatórios do IPCC que destacaram que deter o desmatamento até 2030 é fundamental para alcançar o objetivo do Acordo de Paris de limitar o aquecimento a 1,5°C.

Uma análise do Global Forest Watch mostra que a perda de floresta primária continuou a aumentar em 2022 em muitos países que abrigam essas bacias florestais, incluindo Brasil, Bolívia e República Democrática do Congo. Enquanto isso, a Indonésia reduziu sua perda de floresta primária mais do que qualquer outro país nos últimos anos. Novos dados do governo do Brasil mostraram uma forte queda no desmatamento este ano após a entrada do governo Lula.

O WRI Brasil liderou um estudo que mostrou que uma nova economia é possível na Amazônia, onde, com as políticas certas, o Brasil poderia acabar com o desmatamento e criar 833 mil novos empregos, promovendo o crescimento equitativo da economia do país. Na Indonésia, o WRI apoiou o governo na integração da narrativa de baixo carbono em seu plano de desenvolvimento quinquenal para 2020-2024, no qual, em um cenário de desenvolvimento de baixo carbono, o país poderia alcançar uma redução de 43% nas emissões até 2030. Mais recentemente, o WRI e seus parceiros têm explorado oportunidades para promover narrativas de desenvolvimento sustentável semelhantes na Bacia do Congo, começando com a República Democrática do Congo.


Abaixo, o posicionamento de Wanjira Mathai, diretora geral para África e Parcerias Globais do World Resources Institute: 

"O cenário de 1,5°C é impossível sem essas florestas tropicais, o que deveria alertar todos os governos do planeta sobre a urgência de protegê-las. Só que também é impossível proteger essas florestas sem focar na resiliência e na melhoria da qualidade de vida das pessoas que vivem nelas.

Apesar de suas limitações, a Declaração oferece um ponto de partida para que esses países renovem a colaboração global para a proteção dessas florestas vitais. Agora, precisamos de um progresso muito maior. Os países das três bacias devem aprofundar a colaboração para atrair mais financiamento internacional e construir uma coalizão verdadeiramente inclusiva, na qual as vozes locais são valorizadas. Há muito o que os países podem aprender uns com os outros.

Esta Declaração enfatiza a importância da cooperação científica que enaltece o conhecimento de instituições locais, povos indígenas e comunidades locais. A distância entre o conhecimento e a prática atrasa nossa capacidade de transformar as comunidades. A cultura é a sabedoria codificada de um povo. Como incorporá-la à ciência?

Os caminhos para implementar o plano de ação devem estar alinhadas com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, o Acordo de Paris e o Quadro Global de Biodiversidade. Também foi encorajador que a cúpula tenha renovado o foco na restauração, uma vez que 65% das terras produtivas da África já estão degradadas.

No caso da Bacia do Congo, vemos a promessa que a colaboração entre essas bacias florestais pode oferecer na construção de uma nova economia, que forneça empregos e oportunidades para os 150 milhões de pessoas que lá vivem. Para proporcionar essas oportunidades econômicas, os líderes de nossas regiões florestais devem ir além do carbono e também valorizar a água, o ar limpo e a biodiversidade que essas florestas oferecem às comunidades, aos países e ao mundo."

 

Abaixo, o posicionamento de Cristiane Fontes, diretora executiva do WRI Brasil:

“Boas sementes foram plantadas em 2023 para a proteção das grandes florestas tropicais do planeta. Em agosto, a Declaração de Belém uniu governos da América Latina em torno de uma pauta comum pela proteção das florestas, ainda que metas e prazos concretos para acabar com o desmatamento na Amazônia tenham ficado de fora do texto. Esta nova declaração mostra que é possível uma colaboração ainda mais ampla, com a mobilização de lideranças de três continentes. 

Nos últimos dois anos, o WRI Brasil está debruçado sobre um desafio que não é apenas da Amazônia: como gerar prosperidade e inclusão social para as comunidades locais sem aumentar a destruição da floresta, com tantos impactos negativos, como os que temos visto nas últimas semanas? O estudo Nova Economia da Amazônia mostrou que estruturar uma economia livre de desmatamento é uma oportunidade de um futuro melhor para os povos da floresta e para a descarbonização de toda a economia brasileira. 

Esperamos que o Brasil avance nessa direção nos próximos anos, contribuindo não só com a construção de uma nova economia justa e inclusiva na Amazônia, mas também no Congo e no Sudeste Asiático.”