Os primeiros dias de Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP26), em Glasgow, foram marcados pela presença de mais de 100 líderes de estado e de governo e pelo anúncio de importantes compromissos com a ação climática.

A Declaração dos Líderes de Glasgow sobre Florestas e Uso do Solo, assinada por mais de 100 países, incluindo o Brasil, para deter e reverter a perda florestal e a degradação do solo até 2030, reconheceu o papel fundamental das florestas para a redução de gases de efeito estufa. O governo brasileiro também apresentou uma nova meta de redução de emissões para 2030, o compromisso de zerar o desmatamento ilegal até 2028 e o objetivo de longo prazo de zerar emissões líquidas até 2050.

Leia o posicionamento de Carolina Genin, diretora de Clima do WRI Brasil:

“O reconhecimento do papel das florestas como solução indispensável para combater a emergência climática, formalizado na Declaração dos Líderes de Glasgow sobre Florestas e Uso do Solo, já é um legado positivo desta Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP26). O Brasil é uma peça-chave desta engrenagem e acerta em aderir à declaração, visto que acabar com o desmatamento e promover a restauração de florestas e paisagens são algumas das contribuições mais eficazes que o país pode dar no combate à emergência climática. Além disso, são ações benéficas para a economia nacional.

“A declaração uniu grandes economias e disponibilizou US$ 12 bilhões de fundos públicos e US$ 7,2 bilhões do setor privado para deter e reverter a perda florestal e a degradação do solo até 2030. Adiantar para 2028 a meta de longo prazo para zerar o desmatamento ilegal, como anunciado pelo governo brasileiro na Conferência, não será suficiente para recuperar a credibilidade internacional. Mais do que palavras, o momento exige ações concretas a partir de 12 de novembro, quando termina o encontro em Glasgow.

“Não há cenário de 1,5°C para o mundo sem a Amazônia. A região precisa de um novo modelo de desenvolvimento, livre de desmatamento, que incorpore tecnologias de baixo carbono no campo e nas cidades, sem deixar nenhuma pessoa para trás. Não precisamos desmatar para aumentar a produtividade. Pelo contrário, a restauração de áreas degradadas é o melhor caminho para uma agricultura mais sustentável e o fortalecimento de uma nova economia florestal. O desmatamento vem aumentando desde 2013 e, atualmente, o uso e ocupação da terra respondem por 46% das emissões nacionais. Prova disso é que em 2020, durante a pandemia da Covid-19, as emissões globais despencaram quase 7%, enquanto no Brasil cresceram 9,5%.

“O governo brasileiro também anunciou na COP26 que elevará a meta de corte de emissões de gases de efeito estufa (GEE) em 2030 de 43% para 50% em relação aos níveis de 2005, usando como base o quarto inventário nacional. Isso significa que o Brasil poderá emitir a mesma quantidade de GEE que havia prometido em 2015. O Acordo de Paris prevê aumentos graduais nos compromissos, mas a contribuição brasileira permanece estagnada seis anos depois e é insuficiente para o objetivo de manter o aumento da temperatura do planeta em até 1,5°C.

“Aumentar a ambição significaria um sinal de estímulo à transição para uma economia verde, oportunidade única para o crescimento do Brasil nos próximos 10 anos. Análises do WRI Brasil já demonstraram que esse caminho não exige uma ruptura e seria uma saída mais rápida e justa para a crise econômica, gerando mais empregos e crescimento em relação ao padrão de desenvolvimento atual.

“A transparência será um dos pontos mais importantes para a retomada da credibilidade do Brasil. Monitorar e reportar os avanços; garantir os direitos das populações indígenas e comunidades que vivem em áreas ameaçadas pela degradação; abandonar pautas legislativas e administrativas que flexibilizam as regras ambientais atuais; assumir uma postura ativa no combate ao desmatamento; e fomentar uma nova economia para a Amazônia que prestigie a floresta em pé e, ao mesmo tempo, desenvolva o capital natural e humano local, serão medidas essenciais para que o Brasil cumpra os seus últimos compromissos. Mais do que qualquer discurso, a credibilidade do Brasil será definida pelas ações.”