A restauração florestal vem ganhando cada vez mais relevância no cenário brasileiro, pelo entendimento do potencial do país nesse setor e pelas iniciativas internas, como o Código Florestal, e externas, como o Acordo de Paris. Neste último, o Brasil assumiu o compromisso de restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares (uma área quase do tamanho do estado do Ceará) até 2030. Faz sentido: plantar árvores é uma das maneiras mais efetivas e competitivas, em termos de custo, de mitigar as mudanças climáticas, além de representar uma ótima oportunidade de negócio.

O plantio de espécies arbóreas nativas com fins econômicos poderia responder por uma parte importante desse montante. Mesmo que o Brasil tenha um cenário promissor, com competência tecnológica e conhecimento em silvicultura, algumas barreiras ainda precisam ser vencidas para que a atividade ganhe a escala necessária para a criação de uma nova economia florestal.

Um dos desafios é promover pesquisa e desenvolvimento (P&D) para as espécies nativas, assim como ocorreu nos últimos anos com o eucalipto e o pinus, árvores exóticas e expoentes da silvicultura no país. O alto grau de desenvolvimento realizado para essas espécies proporcionou a criação de técnicas tanto para o sistema de produção quanto para o melhoramento genético, aumentando a produtividade e, consequentemente, o interesse por esse tipo de plantio. “O desafio que temos é evoluir e desenvolver sistemas agroflorestais, plantios mistos com nativas e exóticas, em modelos de restauração florestal com espécies nativas que têm ganhos tanto econômicos quanto ambientais.”, explica Alan Batista, especialista de Investimentos do WRI Brasil.

Como parte do projeto Verena e em parceria com a Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, o WRI Brasil está liderando uma iniciativa de P&D para iniciar uma plataforma pré-competitiva de desenvolvimento da silvicultura de espécies nativas no Brasil. Isso significa que a plataforma irá buscar recursos e investir em pesquisa para desenvolver algumas espécies nativas, nas áreas de melhoramento genético, manejo, tecnologia da madeira, entre outras. Os resultados serão compartilhados entre institutos de pesquisa, universidades, empresas e produtores rurais. A ideia é que essa pesquisa, ainda em uma etapa pré-competitiva, crie as condições para que a restauração com nativas atinja um novo estágio, tornando-se mais competitiva no mercado. Essa fase competitiva se daria quando o setor privado investisse em pesquisa para resultados próprios. “Com esse trabalho queremos entregar uma espécie melhorada, com orientações técnicas e os procedimentos para cultivá-la. A partir desse impulso, quem quiser desenvolver mais, pode seguir pesquisando com os próprios recursos. Foi assim com o eucalipto, por exemplo”, explica Alan.

O desenvolvimento das espécies é um trabalho que pode levar décadas, mas a plataforma pretende entregar resultados de curto, médio e longo prazo. Hoje, por exemplo, simplesmente monitorar e organizar as lacunas para o desenvolvimento de espécies já seria uma entrega imediata interessante, pois ainda é desconhecido o nível de tecnologia já desenvolvido para algumas espécies madeireiras nativas. Escolher as espécies de maior potencial para receber os investimentos é uma maneira de dar um passo adiante. “A grande questão é que a silvicultura com espécies nativas pode trazer grandes benefícios para o país. Porém, essas espécies ainda se encontram em um ponto de desenvolvimento que exige investimentos pré-competitivos para alcançar escala comercial. O momento é de mostrar às agencias multilaterais, agencias de desenvolvimento e órgãos de fomento à pesquisa que já existem experiências capazes de gerar retorno de curto prazo como, por exemplo, utilizar propagação vegetativa ao invés de propagação via seminal para algumas espécies”, lembra Alan.

A vantagem desse cenário, segundo Alan, é que além mitigar as mudanças climáticas, fixar carbono e fomentar a economia, há ganhos sociais. Se houver melhoramento de uma espécie de árvore usada em atividades extrativistas, como castanha-do-pará e açaí, por exemplo, as comunidades que vivem dessa atividade também se beneficiam.

Um estudo que irá mapear as lacunas e prioridades de pesquisa em silvicultura de espécies arbóreas nativas será lançado. Esse será o ponto de partida para o projeto executivo da plataforma pré-competitiva na busca por recursos para pesquisa em silvicultura de nativas durante os próximos 20 anos.