O Brasil tem bons motivos para preservar a Caatinga: é o único bioma 100% brasileiro, lar de uma grande riqueza de espécies de fauna e flora, e a região semiárida mais densamente populosa do mundo.  

Porém, o bioma enfrenta forte desmatamento, degradação, e este ano registrou pela primeira vez a presença de áreas áridas, mostrando já os efeitos da desertificação causada pelas mudanças climáticas.  

No entanto, o combate à desertificação e a restauração de ecossistemas são possíveis. E o primeiro passo para enfrentar esse cenário de degradação é justamente conhecer o problema.  

Por isso é fundamental monitorar as mudanças no uso da terra na Caatinga para entender a extensão do problema e desenvolver estratégias de restauração.

O WRI Brasil atua com parceiros na Caatinga, como o MapBiomas Caatinga, no desenvolvimento de pesquisas e metodologias para monitoramento do uso do solo no bioma, além da disseminação e comunicação de resultados encontrados usando essas ferramentas.  

Uma dessas formas de atuação é por meio de estudos científicos e publicações em revistas especializadas com processos de validação e revisão de pares. Abaixo, confira os principais resultados desse trabalho, mostrando como conhecer a paisagem pode ser transformador em trazer novas soluções.

Três décadas de dados da mudança do uso do solo na Caatinga

O estudo mais recente dessa série analisou dados do MapBiomas entre 1985 e 2019 para entender as dinâmicas de alterações na vegetação nativa e em outras formas de uso e cobertura da terra.  

O estudo foi conduzido por especialistas da Universidade Estadual de Feira de Santana, Universidade Federal da Bahia, WRI Brasil, Universidade do Arizona e da Geodatin.

Segundo o estudo, a Caatinga perdeu 11% de sua vegetação nativa em 35 anos. A perda por desmatamento e conversão de áreas naturais somou 6,57 milhões de hectares, uma área maior do que o território do estado da Paraíba.

A perda de vegetação ocorreu em todas as principais categorias: as savanas tiveram um declínio de 11% (5,79 milhões de hectares), formações florestais foram reduzidas em 8% (340 mil caracteres) e as formações naturais não florestais sofreram uma redução de 12% (430 mil hectares). Além disso, a superfície de água diminuiu em 24%, intensificando o processo de desertificação. O desmatamento está diretamente relacionado à expansão de áreas agrícolas e pastagens. Nos últimos 35 anos, as pastagens aumentaram 62%, enquanto as áreas agrícolas cresceram 284%.  

Modelos de produção não sustentáveis colocam mais pressão sobre o bioma, e a falta de políticas públicas eficazes para conter essa expansão e promover a restauração torna o cenário ainda mais alarmante.

O estudo, chamado “Towards Uncovering Three Decades of LULC in the Brazilian Drylands: Caatinga Biome Dynamics (1985–2019)”, foi publicado na revista Land em agosto de 2024.

Estudo reforça ações para restaurar a Caatinga

Apesar dos avanços em monitoramento, estamos longe do ideal. Um outro estudo fez uma análise bibliométrica da pesquisa sobre mapeamento de degradação em áreas áridas e semiáridas ao redor do mundo. O trabalho mostrou que apenas 4% das pesquisas científicas do tema no mundo são sobre a Caatinga. Ainda assim, a região se destaca na América do Sul, colocando a Caatinga como um recente hotspot de pesquisas sobre o tema no mundo na última década.

Essa análise é importante porque ela mostra os avanços e lacunas no conhecimento científico sobre o mapeamento da degradação em terras secas (drylands). Essas terras secas cobrem 41% da superfície da terra, sustentam mais de 2 bilhões de pessoas e têm características únicas em termos de vegetação nativa, propriedades climáticas e uso do solo.  

O estudo, intitulado “Bibliometric Analysis of Land Degradation Studies in Drylands Using Remote Sensing Data: A 40-Year Review”, foi publicado na revista Land em setembro de 2023.

Restauração da Caatinga é um caminho para a sustentabilidade

A restauração dos ecossistemas da Caatinga é uma das soluções mais promissoras para enfrentar os desafios atuais. Um estudo divulgado pelo WRI Brasil em julho mostra o potencial de restaurar 500 mil hectares do bioma, o que geraria benefícios sociais e econômicos significativos, especialmente para a agricultura familiar, além de contribuir para a segurança hídrica e a adaptação às mudanças climáticas.

Ações coordenadas que envolvem a recuperação de paisagens e o manejo sustentável do solo são essenciais para preservar a Caatinga e evitar que ela se transforme em um deserto. Iniciativas como a Rede para a Restauração da Caatinga (RECAA), por exemplo, buscam promover a restauração, gerar empregos e renda para a população local e subsidiar a convivência com o semiárido.  

Com a publicação de estudos recentes e iniciativas de monitoramento, o WRI Brasil, por meio do projeto Land Carbon Lab, traz as tecnologias de monitoramento para o debate da recuperação da vegetação nativa no bioma. As soluções exigem ação coordenada entre governos, pesquisadores e sociedade civil para garantir o futuro da região e melhorar a qualidade de vida das comunidades locais.