Apesar de ser um país com grande disponibilidade de água, o Brasil não está imune aos riscos de estresse hídrico. Nas grandes cidades e regiões metropolitanas, uma população crescente pode precisar acessar recursos hídricos de áreas próximas, e as mudanças climáticas já estão tornando o clima mais instável, aumentando as chances de secas que possam comprometer o abastecimento. 

Para fazer frente a esses desafios e garantir água de qualidade para a população, governos, empresas de saneamento e financiadores precisarão investir recursos públicos e privados no sistema de abastecimento. Esses investimentos muitas vezes são feitos em infraestrutura convencional, como reservatórios, represas e estações de tratamento. Essas obras são necessárias, mas sozinhas não darão conta do desafio de atender uma demanda crescente pela água.  

Novos estudos e experiências em várias partes do mundo mostram que um outro tipo de investimento pode, em conjunto com as obras convencionais, trazer grandes benefícios econômicos, sociais e ambientais. Esses novos investimentos estão sendo chamados de “infraestrutura natural” ou “infraestrutura verde”. São soluções baseadas na natureza como a conservação da vegetação nativa em áreas de mananciais, a restauração florestal e a gestão sustentável e agroecológica das paisagens. 

O WRI Brasil dedica-se a desenvolver estudos relacionados a infraestrutura natural para água e a soluções baseadas na natureza, além de articular com tomadores de decisão das esferas municipais e estaduais no Brasil para fomentar e dar escala a conservação e restauração de florestas no entorno de reservatórios e mananciais. O objetivo é gerar soluções inteligentes e eficientes para setores público e privado, reunindo conhecimento já existente em economia, restauração florestal e mapeamento geoespacial para identificar riscos, oportunidades de implantação de infraestrutura natural e estratégias para proteção dos recursos hídricos. 

Estimando os benefícios econômicos da infraestrutura natural para água 

Para que soluções baseadas na natureza como a conservação da vegetação nativa e a restauração florestal sejam de fato colocadas em prática pelas empresas de abastecimento e poder público, em um primeiro momento foram evidenciados os benefícios econômicos da infraestrutura natural.  

Ao restaurar florestas que estão em paisagens degradadas e em áreas prioritárias para o abastecimento de água, como no entorno de reservatórios, as árvores evitam que grande parte dos sedimentos chegue aos cursos d’água, funcionando como barreiras naturais. Isso gera economia, na medida em que reduz a quantidade necessária de produtos químicos para o tratamento da água e diminui os custos de energia das estações de tratamento relativos à dragagem, além de prolongar a vida útil dos reservatórios. 

Infográfico mostra como as florestas melhoram a qualidade da água

Em uma série de três estudos feitas por WRI Brasil, TNC, UICN, Natural Capital Project, Instituto Bioatlântica, Fundação Boticário e FEMSA, foi possível calcular esses resultados para três importantes bacias hidrográficas do Brasil: a Cantareira, em São Paulo; a bacia do Guandu, no Rio de Janeiro; a bacia do Jucu, no Espírito Santo. 

Os resultados já estão disponíveis para download: 

Incluindo as dimensões social, de biodiversidade e de conservação para a infraestrutura natural 

Nos últimos anos, a abordagem de infraestrutura natural para a água foi integrada ao programa Cities4Forests, que atua para conservar, restaurar e gerenciar de forma sustentável a natureza em prol do bem-estar humano, partindo das cidades como catalisadoras de grandes mudanças políticas em prol das florestas, facilitadoras do fluxo de financiamento para projetos baseados na natureza e defensoras globais da conservação e restauração de florestas tropicais. 

Dois novos estudos foram produzidos, desta vez para as regiões metropolitanas de Campinas e de Belo Horizonte. Os resultados trazem recomendações conectadas com políticas públicas de cada território e buscam fundamentar, estimular e facilitar a criação e o fortalecimento de programas relacionados principalmente à restauração e à gestão hídrica. 

Na região metropolitana de Campinas, o estudo foi elaborado dentro do projeto INTERACT-Bio, do ICLEI América do Sul. Além da análise de benefícios econômicos, o relatório ampliou a abordagem para entender o papel da conservação das áreas de vegetação nativa já existentes e a conexão com políticas públicas municipais em vigor, como no Plano de Ação para Implementação da Área de Conectividade na Região Metropolitana de Campinas, do Programa Reconecta RMC. 

Já as análises feitas para a Região Metropolitana de Belo Horizonte avançaram ao incluir uma perspectiva social. O relatório, produzido por WRI Brasil em parceria com a Copasa MG e o programa Pró-Mananciais, utiliza a ferramenta ROAM para entender como a restauração florestal a partir de modelos econômicos, como os sistemas agroflorestais, pode gerar renda para produtores rurais residentes nas áreas prioritárias, que muitas vezes são também áreas de maior vulnerabilidade social. O trabalho apresenta recomendações para a destinação de recursos com vistas à promoção de benefícios sociais para além da gestão hídrica e da restauração. 

Uma rede internacional em prol de uma melhor gestão da água 

O WRI Brasil trabalha a questão de infraestrutura natural em parceria com o World Resources Institute (WRI) em outros países, como Estados Unidos e Índia, e convoca e empodera pessoas em todos os níveis da tomada de decisão. A organização oferece um banco de dados com evidências e melhores práticas para colocar a infraestrutura natural em ação. A educação coletiva também é conduzida por meio de extensas redes de gestores, conservacionistas, negócios e governos que estão reunidos por um objetivo em comum: melhorar o acesso à água e fomentar o desenvolvimento econômico pela conservação e a restauração de paisagens.