Esse post foi publicado originalmente pela Uma Gota No Oceano, organização parceira do WRI Brasil.


Uma simples emenda ao Protocolo de Montreal, o mais bem-sucedido tratado internacional para o meio ambiente da História, seria a forma mais eficaz de garantir que as metas do Acordo de Paris para o clima sejam cumpridas. O seu principal objetivo é que os países signatários do tratado se comprometam com a redução e eliminação graduais do uso dos HFCs (hidrofluorcarbonetos) em aparelhos de refrigeração.

A Casa Branca fez hoje (22 de setembro) um comunicado à imprensa anunciando que mais de 100 países reunidos em Nova York (entre eles Estados Unidos, Argentina, Chile, Colômbia, os 28 membros da União Europeia e os 54 países da África) pleitearam uma emenda “ambiciosa” ao Protocolo de Montreal, que inclua uma “data antecipada de congelamento” a partir da qual os signatários do tratado não poderão mais aumentar seu consumo de HFCs.

Um grupo de países doadores e filantropos também manifestou sua intenção de prover US$ 80 milhões em apoio as nações, como as do Artigo 5 (países em desenvolvimento), que necessitem de assistência para implementar a emenda e aumentar sua eficiência energética. O Brasil está entre essas nações.

O mercado de aparelhos de ar condicionado, onde o HFC é mais usado, vem crescendo de 10% a 15% ao ano no país. O padrão de Performance Energética Mínima para aparelhos de ar condicionado no Brasil é de 2,6 W/W; no Japão, é mais de 6,5 W/W e na China, 6 W/W. Adotando padrões próximos a estes países, o Brasil economizaria, até 2050, o equivalente à capacidade de geração de energia de 92 a 216 usinas de 500 MW.

Histórico:

Em 1983, cientistas fizeram uma descoberta alarmante: havia um buraco sobre a camada de ozônio na Antártida, região da estratosfera que funciona como escudo natural do planeta contra os raios ultravioleta. A resposta foi rápida: em 1987, foi firmado o Protocolo de Montreal, por mais de 150 países. Seu objetivo era a eliminação gradual do uso de cerca de cem substâncias usadas em equipamentos de refrigeração e frascos de aerossol, incluindo os famigerados CFCs (clorofluorcarbonetos), que estavam corroendo este escudo.

O acordo entrou em vigor em 1989 e, graças a ele, estamos conseguindo reduzir o buraco na camada de ozônio. Já tapamos uma área do tamanho da Índia e a previsão é que ela esteja totalmente recuperada até 2065. E tão importante quanto: provamos que é possível reverter os danos que estamos causando ao clima.

Se agirmos rápido novamente, poderemos deter as mudanças climáticas. E o Protocolo de Montreal mais uma vez poderá ser um valioso aliado, nos ajudando a cumprir as metas estabelecidas pelo Acordo de Paris.

Hoje, os principais substitutos dos CFCs são os HFCs (hidrofluorcarbonetos). Porém, embora tenham se mostrado eficazes para a recuperação da camada de ozônio, eles apresentam um efeito colateral: contribuem para o aquecimento global. Por isso, recomenda-se a sua troca por substâncias como a amônia, o propano e o isobuteno, que são menos prejudiciais para o clima.

Países signatários se reúnem em outubro em Ruanda

Mês que vem (de 10 a 14) está agendado um encontro dos signatários do Protocolo de Montreal em Kigali, Ruanda. O objetivo é discutir uma emenda ao tratado visando essa substituição de gases. Que a emenda precisa ser feita, é ponto pacífico; o que estará em jogo em Kigali é a sua efetividade. Na última reunião do G20, em Hangzhou, Estados Unidos e China, os dois maiores poluidores do mundo, anunciaram que vão se empenhar para a aprovação de uma emenda mais ambiciosa. O Brasil poderia se juntar aos dois neste papel de liderança.

Uma emenda ao Protocolo de Montreal poderá reduzir, já durante o período de transição, 200 bilhões de toneladas em emissões de gases do efeito estufa. Caso se decida também que os países signatários devem investir mais em tecnologias com maior eficiência energética, poderão ser eliminadas mais 100 bilhões de toneladas até 2050. Isso representaria um refresco de 0,5º C, fazendo com que as metas do Acordo de Paris (que prevê um aumento máximo de 2° C na temperatura média global) fossem atingidas mais cedo. Isso porque o HFC é um poluente de vida curta, dissipa-se em menos tempo.

Para maiores informações, leia o relatório da organização Institute for Governance and Sustainable Development a respeito:

http://www.igsd.org/wp-content/uploads/2015/10/HFC-Primer-26Aug2016-1.pdf

Para solicitar entrevistas ou maiores esclarecimentos, favor contatar: Maria Paula Fernandes, mariapaula@umagotanooceano.org ou 21-99716-7529 Stela Herschmann, stelaherschmann@umagotanooceano.org ou 21-987937616