Há dois milênios e meio, Platão disse que "o comportamento humano flui de três coisas: desejo, emoção e conhecimento". Infelizmente, o nosso comportamento humano e corporativo em relação à mudança climática não está nem perto do que precisaria ser. Mas se o grande filósofo estiver certo (e em geral ele está), 2013 pode ter sido o fator de mudança.

Os avanços no "desejo" e "emoção" foram modestos mas reais - com as pesquisas mostrando, em geral, uma maior preocupação com o planeta, os americanos apoiando o pronunciamento da mudança climática do Presidente Obama em junho, os cidadãos e as autoridades chinesas concluindo que a poluição do ar que encurta a vida é um preço inaceitável pelo crescimento econômico, os filipinos e o mundo se lamentando pela perda de seis mil vidas no Tufão Haiyan.

Mas as grandes novidades de 2013 vieram dos ganhos em conhecimento. A nossa compreensão foi aprofundada em diversas áreas. Considere o seguinte, por exemplo:

Gasto excessivo do orçamento de carbono

O relatório do Painel Intergovernamental de Mudança Climática (IPCC) desse ano confirmou novamente o impressionante consenso científico de que o mundo está aquecendo e que a causa são as atividades humanas. Pela primeira vez, os cientistas também identificaram um “orçamento do carbono,” as emissões que o mundo pode fazer mantendo a perspectiva de limitar o aquecimento a apenas 2°C. No momento, estamos a caminho de queimar esse orçamento nos próximos 30 anos. Conforme uma declaração dos cientistas, isso significa que cerca de três quartos das reservas de combustíveis fósseis - especialmente o carvão - não devem ser utilizados se o mundo quiser limitar o aumento de temperatura a 2°C.

O novo verbete desse ano no dicionário climático é “ativos obsoletos,” a ideia que ativos físicos (reservas de carvão, ou fábricas e equipamentos que emitam dióxido de carbono) precisem ser desconsiderados, à medida que os governos finalmente (e sem ter previsão) adotem políticas para lidar com a mudança climática. Isso poderia levar ao estouro da "bolha de carbono", com sérios problemas econômicos. A implicação está clara: deveria se estabelecer agora um preço modesto para o carbono, com uma escalada pré-anunciada. Esse tipo de previsibilidade levará a mais, não menos, investimentos e empregos.

Perdendo 50 campos de futebol em florestas por minuto

Um novo relatório da Science, do Professor Matt Hansen, mostrou que o mundo tem perdido 13 milhões de hectares de florestas por ano. Isso equivale ao tamanho da Inglaterra. O que é uma tragédia para os ecossistemas e para os negócios e as comunidades que dependem dos produtos florestais. Apesar disso, existe um lado positivo: através do uso de dados por satélite, essa pesquisa fornece a primeira imagem já feita em alta resolução da alteração da cobertura florestal nos últimos 13 anos.

O Global Forest Watch do WRI, a ser lançado no começo de 2014, usará dados de imagens por satélite, bem como informações fornecidas pela população para registrar as alterações de cobertura florestal através de um aplicativo online gratuito. Esses dados atualizados e transparentes podem ajudar a melhorar a gestão florestal e diminuir as taxas de desmatamento dos países. Quando os cidadãos perceberem que 50 campos de futebol de cobertura florestal estão sendo perdidos a cada minuto de cada dia - eles insistirão em uma mudança de direção?

Subsídios de energia: US$ 2 trilhões

Esse ano, o Fundo Monetário Internacional (FMI), uma das instituições financeiras mais confiáveis, quantificou os subsídios de energia necessários. Os governos estão gastando US$ 500 milhões para incentivar o uso dispendioso de combustível fóssil. Esse número não é novidade - embora venha do FMI, ele chegou aos ouvidos da comunidade financeira. Mas o Fundo teve a coragem de ir mais adiante. Quando levamos em consideração o nível de impostos em outros bens e o fato de que a energia tem um impacto adverso no clima, o subsídio real é de US$ 2 trilhões por ano. Eliminar os subsídios de energia pode reduzir as emissões globais de dióxido de carbono na incrível quantia de 15%, ao mesmo tempo em que aumenta o crescimento econômico, diminuindo os déficits de orçamento e incentivando os investimentos no setor de energia.

Desperdício de comida é pior do que pensávamos

Alimentar 9 bilhões de pessoas de maneira sustentável até 2050 é um dos maiores desafios da nossa era. Conforme a análise do WRI, precisaremos produzir 69% mais calorias em comida para alcançar esse objetivo. E ainda assim, atualmente, o mundo desperdiça ou perde cerca de um terço de toda a comida em volume e cerca de um quarto por valor calórico. Com a redução da quantidade de comida que perdemos e desperdiçamos a cada ano, nós podemos preencher o déficit alimentar em cerca de 20%. Isso melhoraria dramaticamente os padrões nutricionais e tornaria mais fácil o processo de lidar com as mudanças climáticas. (A agricultura é responsável direta e indiretamente por cerca de 30% das emissões de gases do efeito estufa).

Neste ano tivemos grandes produtores de alimentos e vendedores levando a questão mais a sério. Por exemplo, o Tesco, o segundo maior distribuidor de alimentos, anunciou os resultados de uma grande audição de perda e desperdício de alimentos dentro da sua jurisdição. Como consequência, a questão está vindo à tona para a consciência pública e dos governos.

Não existia um método internacional consistente para lidar com e reduzir esse desperdício - até agora. Em outubro, o WRI e parceiros (Conselho de Negócio Mundial para o Desenvolvimento Sustentável, Programa de Ação para Desperdício e Recursos, FAO, UNEP entre outros) iniciaram um processo para desenvolver o Protocolo Global de Perda e Desperdício de Alimentos, uma iniciativa que criará uma metodologia padronizada para auxiliar as empresas e países a medir a parcela dos alimentos que não é comida. Ao identificar a dimensão do problema de perda e desperdício de alimentos - e onde ele está ocorrendo - os países e as empresas poderão tomar atitudes para impedir que isso ocorra.

Riscos da água

Na pesquisa dos principais riscos do Fórum Econômico Mundial de 2013, os líderes colocaram os riscos da água como um dos três principais. Mais de 1,2 bilhão de pessoas atualmente vivem em regiões em que a água é escassa. Outras tem que lidar com a poluição, inundação e fornecimento variável. Ainda assim, a maioria dos países e negócios não dispõe de dados de alta qualidade acerca dos riscos de água que eles enfrentam.

As novas tecnologias permitem que os riscos da água - secas, inundações, poluição - sejam medidos e previstos com muito mais precisão do que antes. O WRI, por exemplo, lançou a primeira avaliação já feita dos riscos de água nacionais neste mês, examinando a exposição de 181 países a inundações, secas, referência de escassez de água e variação do fornecimento. Os pesquisadores descobriram que 37 países enfrentam níveis "extremamente altos" de escassez de água, onde pelo menos 80% do fornecimento disponível para uso doméstico, agricultura e indústrias é retirado anualmente. Os líderes de negócios e do país podem usar essas informações avançadas para criar estratégias que possam mitigar os riscos de água e garantir um futuro com água.

2013: o ano das informações melhores

Estamos deixando 2013 com menos ignorância e uma maior compreensão. Novas ferramentas e pesquisas estão ampliando muito o nosso entendimento. Mas nós agiremos com base nisso? O conhecimento pode impulsionar a ação, mas não é uma consequência garantida.

O ex-presidente dos EUA, James Garfield (1831-1881), observou com muita sabedoria que "a verdade te libertará - mas, primeiro, te deixará infeliz". Apesar de podermos demonstrar de maneira convincente que todos os cidadãos - bem como o nosso futuro econômico - se beneficiarão com um caminho diferente, nós não podemos garantir que os interesses próprios existentes também sairão ganhando. Os líderes políticos precisarão fazer escolhas difíceis, e os mais corajosos e melhores enfrentarão uma forte oposição daqueles que tem interesse em manter o status quo.

A conquista de 2013 é que, ainda que não haja ações, nós não podemos mais dizer que não sabíamos.