Este post foi escrito por Elizabeth Reichart e publicado originalmente no WRI Insights.


Reduzir a “pegada ecológica” poderia ser o suficiente para qualificar uma empresa a se tornar líder no combate às mudanças climáticas há 10 anos. Hoje, no entanto, elas precisam fazer mais do que isso. A definição de liderança mudou – e agora inclui uma defesa responsável e pró-ativa de ação climática para reduzir emissões.

Mais de 500 empresas se comprometeram com metas de redução de emissões, e mais de 150 estão comprometidas a usar 100% de energia renovável em suas operações até 2030. As companhias estão sendo transparentes com suas emissões e avaliando suas cadeias de fornecedores em relação a riscos climáticos. Mas apenas cumprir esse checklist não será suficiente para ser considerado um líder climático empresarial em 2019, e certamente não será suficiente para impedir os piores impactos das mudanças climáticas.

Um novo relatório da EDF destaca como os rankings de líderes climáticos do mundo corporativo negligenciam a articulação política para o clima, e defende que isso se tornou um imenso “ponto cego” para medir a contribuição de qualquer empresa nas soluções para o clima.

O relatório está correto. Empresas podem e devem reduzir emissões, mas apenas políticas públicas podem elevar esses esforços para dar escala e ritmo necessários para mitigar as mudanças do clima. A influência política de empresas pró-clima, com histórias de articulações bem-sucedidas para políticas de outras áreas, pode prover às políticas climáticas a credibilidade que precisam para conseguir gerar resultados duradouros.

Para empresas que almejam ter impacto real nos níveis estaduais e federal, eis três importantes pontos pela defesa de uma política climática responsável.

1. Compartilhe sua “história climática”

Empresas têm uma perspectiva autêntica e de credibilidade para compartilhar sobre as ameaças de longo prazo das mudanças climáticas para suas operações. Essa perspectiva é sua história climática. Criar uma história honesta e persuasiva é o primeiro passo para engajar politicamente com o assunto.

Equipes do governo que dialogam com empresas precisam saber como o clima conecta com as áreas de interesses do setor privado. As mudanças climáticas impõem um risco real aos negócios que pode afetar a economia, os empregos e a habilidade do setor privado de fornecer produtos e serviços. Os interlocutores do governo precisam conhecer melhor a história climática das empresas.

Os colaboradores de sua companhia que dialogam com o poder público sabem o que a sua empresa está fazendo para o clima? Quando sustentabilidade e políticas internas da empresa não interagem, o resultado é que a maioria das empresas não estão levando o crédito que merecem pelas medidas que aplicam, o que resulta numa diminuição de influência na esfera pública.

Quando as empresas compartilham suas “histórias climáticas” usando dados e exemplos, elas mostram aos tomadores de decisão credibilidade e confiança, podendo assim apoiar políticas ambiciosas. Quando autoridades eleitas são informadas pelas empresas, elas passam a ter mais confiança para falar sobre clima com autoridade.

2.Encontre os formuladores de políticas onde eles estão

A maioria de nós quer um clima seguro e estável, mas conversar com tomadores de decisão não se começa com um “eu quero”. As equipes governamentais sabem disso, mas defensores da sustentabilidade que querem ajudar a formular políticas climáticas nem sempre compreendem essa realidade. Reconhecer que autoridades eleitas representam um grupo da população com certas necessidades é um importante ponto de partida para desenhar um Diagrama de Venn entre o que as empresas com responsabilidade social querem e o que os formuladores de políticas querem. Entenda o contexto local para tornar o seu caso mais atrativo, seja ele o investimento em energias renováveis, seja a compra de veículos elétricos. Molde a defesa das suas ideias de acordo com o interesse local, e você terá maior probabilidade de atrair a atenção de autoridades eleitas.

3. Incentive o governo a ser mais ambicioso

Quando empresas defendem ambição climática e mostram ao governo que estão comprometidas, elas abrem um caminho para que os governantes sejam mais ousados em seus comprometimentos. Da mesma forma, quando o governo envia sinais claros de comprometimento de longo prazo, o setor privado pode agir com confiança para investir em alternativas de baixo carbono. O Ambitious Loop, um estudo produzido pelo WRI em parceira com We Mean Business e UN Global Compact, destaca situações em que empresas e governos enviaram esses sinais claros, criando condições para maior confiança na ação climática.

Alguns líderes do setor privado começaram a atrelar suas influências e engajar na defesa de políticas para o clima. Danone North America, Nestlé USA, Unilever United States e Mars formaram a Sustainable Food Policy Alliance para defender políticas públicas nos Estados Unidos em cinco áreas-chave, sendo uma delas meio ambiente e mudanças climáticas. Esse grupo foca em comunicar aos tomadores de decisão seu apoio a políticas como colocar um preço no carbono, e recentemente divulgou uma série de princípios para um ambiciosa ação climática.

Hora de articular

Empresas que lideram em inovação precisam atrelar suas influências políticas e reconhecer que a política climática é urgentemente necessária para proteger seus clientes, funcionários, fornecedores e até mesmo seus próprios interesses de negócios. O Global Commission on the Economy and Climate identificou que uma ação climática ambiciosa pode gerar pelo menos US$ 26 trilhões em benefícios econômicos e gerar até 65 milhões de empregos em uma nova economia de baixo carbono até 2030. Uma das narrativas mais atrativas que uma empresa pode contar é a do setor privado atrelando o potencial de crescimento econômico nas boas políticas de sustentabilidade das empresas.

A pressão está nas empresas para colocar sua influência no mesmo patamar de sua liderança climática, especialmente quando investidores, ONGs e consumidores cada vez mais cobram que as empresas ajam. Formuladores de políticas precisarão escutar, mas as empresas precisam primeiro estabelecer uma narrativa autêntica e de credibilidade para demonstrar que elas estão dispostas a usar seu capital político para avançar em objetivos climáticos.